22/06/2009

mercearia....

Lá vinha ela, a bolsa embaixo do braço, em silêncio, dizia que estava se preparando para a missa e que precisava ficar em silêncio.
O silêncio dos puros, lá onde o pecado não toca e o inferno não bota medo - dizia ela. Me refiro a dona armazém, Pâmela. Aquele era o único armazém da cidade, entrava muito dinheiro lá, mas ela era sovina, dizia que dali, dinheiro a mais, só para o dízimo.
Corria na boca pequena da cidade que se alguém quisesse saber alguma coisa da cidade ou de algum cidadão era simples, pergunta a dona do armazém, ela sabia tudo de todos.
Solteirona, morena, alta, linda, no auge dos seus 35 anos ainda estava enxuta. Pernas e coxas que deixavam qualquer um louco, recebia flores quase todos os dias, sorria, agradecia, mas não dava chance, seu negócio era Igreja, Bíblia Hóstia e prece, quem seria contra?
Sou pura e vivo só para Jesus e por Jesus – sempre repetia
Já contou de seus namorado, mas relatava também que eram muito abusados, como haveriam de ser diferentes?
Eu sou virgem, pura, intocada e só faço aquilo depois do casamento.
O termo “fazer aquilo” já me assustava, fazer aquilo? Fazer aquilo é sujo, fazer amorzinho, transar, trepar, cometer o pecado original, pelo amor de Deus qualquer outro termo é melhor que “fazer aquilo”, era realmente uma coroa recalcada, não tinha esperanças de brincar naquele corpo.
Causava a loucura nos homens da cidade dizem até que teve alguns que morreram por ela, se entregavam a bebida, e caíam na vida.
Ela por sua vez não se importava, queria ganhar o seu dinheiro e viver a sua vida para Jesus, já que não tinha arranjado ninguém que fizesse as suas vontades, e que fizesse as vontades de Deus.
Eu, como diz a boca pequena era o mais sortudo da cidade, trabalhava na venda dela, emprego que consegui por intermédio da minha irmã, as duas são grudadas, amigas quase irmãs.
E eu o dia inteiro vendo aquelas coxas andando pra lá e pra cá, tudo o que é bom, no caso, ótimo, em seu preço, ela era sovina, mesquinha, meu salário era ridículo, chegava a ser absurdo, descontava o almoço, o café da tarde, não me surpreende ela descontar a luz e a água que eu uso ao trabalhar.
Sorte a minha que eu não tinha filho pra criar, e não me preocupava com dinheiro, o prazer de acompanhar aquelas pernas era maior, doído e doido de prazer esse que vos relata, sem ao menos poder tocar, apenas o cheiro e a imagem, realmente, para mim, ela era intocável.
Apesar de eu trabalhar nos sábados, este era o dia que ela e minha irmã viajavam, diziam que iam em encontros religiosos, religiosamente, ao sábados e duravam no mínimo até segunda cedo, todos os tipos de caridade, preces, pastorais, retiros, encontros de toda sorte que a levariam parar o céu, ou qualquer lugar parecido.
Mas num belo dia de trabalho tive uma rusga com a patroa, que me despediu na hora, saí do meu emprego aos gritos de herege e incompetente, a mesma se descontrolou.
Peguei o dinheiro da saída e na semana no sábado a noite eu fui pra uma cidade vizinha, queria perder minha virgindade, mas não queria esperar meu casamento e pra não dar bandeira fui sozinho em uma zona que ficava distante em uma cidade vizinha, estava disposto a tudo, iria gastar meu último dinheiro em uma zona.
Chegando lá pedi a mais fogosa de todas, falaram que a mais fogosa de todas já viria, Rainha da Luxúria pelos relatos de outros clientes, rezava que a menina sabia da arte, os olhos masculinos do local diziam que ela era uma lenda do local, não saía do quarto, mas fazia os programas mais caros.
Foi essa que pedi, a Rainha da Luxúria, o cafetão fez uma cara feia, coçou o longo bigode amarelado de cigarro, passou a mão na cinta, uma garrucha cuidava da segurança daquele.
Perguntou de eu tinha certeza, se eu tinha cacife, respondi que sim retirei o dinheiro da passagem de volta, e joguei todo o resto em cima da mesa.
Não mentiram, a mais fogosa de todas entrou e acendeu a luz
E lá estava lá, cinta liga vermelha, calcinha minúscula vermelha, sem sutiã, enormes coxas, de pé em cima da cama, uma visão nunca vista por este narrador neófito e para a minha surpresa, a última que eu esperaria, aquele corpo escultural de deixar qualquer um louco, era a minha ex-patroa.
Deu dois passos no quarto disse alguma coisa entre um gemido e vem comigo ante de me reconhecer, jogou-se embaixo dos lençóis, escondeu-se, gritou, ajoelhou, pediu e humilhou-se, ninguém poderia saber do acontecido, ninguém lugar nenhum.
Na segunda logo cedo fiz minhas malas, não falei nada para a minha família, procurei uma pensão para morar, incrivelmente virei administrador do estabelecimento da coroa religiosa da mercearia e sou “noivo” da mesma.
Agora toda Sexta Feira, religiosamente, vou à encontros religiosos.



Texto de 1999, mas refeito em 2009, sim, elel ficou dez anos na gaveta esperando o melhor momento pra sair, pra quem acha que eu sou meio louco, isso aqui é ficção.
abraços.

Um comentário:

liges disse...

rá! uma ficção muito bem contada por um lúcido.. bravo!