20/09/2009

Menino Clichê.

Nunca sonhou muito alto, não por medo da cair, mas ser feliz não era difícil, bastava apenas ser. Se a noite esfriasse ou esquentasse demais apenas precisava de um refúgio, talvez uma rodoviária, com cigarro e comida gordurenta, não nesta seqüência exata.
Nunca foi saudável, pulmões pro cigarro, fígado pra bebida, e os rins para indicar o local exato do pecado.
Ser feliz bastava apenas ser, bailar pela terra sem ao menos saber porque, andarilho do mapa do próprio destino.
Com as mãos no bolso e com receio de viver sem cigarro ela andou mais uns metros até seu destino, 6 e 15 da matina violência contra o corpo, mais um dia se perguntando porque não tomou o café e não penteou os cabelos, com a resposta exata na ponta da língua tinha que chegar a tempo no bar para comprar cigarro, fumar dois ou três, e ir trabalhar
Da maneira que as coisas iam seu estômago ia dar sinal de vida novamente, mais um dia sem café da manhã, well, foda-se, o dia não estava valendo aquele café, a ressaca era contínua e homérica, as portas do inferno em que trabalhava estava mais longe.
Aquele inferno pagava as contas, e algumas vezes pagava muito bem, loja de roupas, convencia-se cada vez mais que bukowski estava certo quando dizia ter “ a impressão que as pessoas que não pensam muito sempre vão parecer mais jovens por mais tempo”, aquelas senhoras que entravam e ficavam horas escolhendo uma blusinha, aquelas senhoras que nem ao menos rugas tinham, gastavam o equivalente ao seu salário em alguns poucos minutos sorrindo, definitivamente elas não pensavam.
Assim ia a manhã, bajulando velhas acéfalas, enfim, tudo isso parece uma revolta adolescente de uma menina que não se deu bem na vida e almoça em um sebo empoeirado porque é romântico ou freak.
Os dias eram assim, acordar, fumar, vender, comer, fumar, vender, fumar, voltar, dormir.
Mas aquele, nos passos curtos da cidade cinzenta, nicotina no canto da boca, couro aberto no peito... nem olhou, nem a viu, ele passara assim, como uma lembrança de m passado bom e não vivido, nem olhou pra trás, nem mexeu o cigarro, parecia flutuar em um par de all star, cabelos quase longos, quase arrumados, barba quase feita, quase uma paixão a primeira, quase, mas a vida continua baby, trabalho, conta, cigarro, noite, dia inferno céu, assim ele passou... imune ao mundo.
A tarde passou rápida, as roupas e toda a sua indústria de acéfalas não a corroeram como antes, e já concordara que sem as acéfalas não existiriam os colls, os losers, o rockers, os freaks, era o mundo girando, as existências co-dependiam, o bem e o mau, o capitalismo e o comunismo, tudo no seu devido lugar, assim, fácil de aceitar, novamente, ser feliz não era difícil, bastava apenas ser.
Ficou gravado na mente o momento do encontro que levantou sua alma da entediante rotina, todos os detalhes, o olhar fixo e castanho, o all star surrado, fumando Malboro, calça surrada o mais elo clichê que já passou por seus olhos.
Resolveu voltar ao mesmo lugar, no mesmo horário e talvez, soubesse pra onde iria aquela figura enjaquetada e imune ao mundo.
No dia seguinte tudo foi extremamente calculado, a roupa, os sapatos, o cabelo o perfume, o cigarro a “la james Jean” ou “ a la Sharon Stone”?
O olhar ao passar por ele, os passos treinados, chamar atenção e ser discreta, tudo era tão difícil quando se dá a devida importância, mas ela se perguntava se ele poderia ser o primeiro amor, um caso de sua mente, ou apenas uma ébria noite de luxúria do corpo com formas refletidas no espelho morrendo no amanhecer? Um pouco de hedonismo não faz mal a ninguém.
Com a mente fervilhando a manhã passou em uma hora, o almoço era próximo, as mãos gelavam, talvez fosse amor, ou apenas suspense de um conto qualquer, não foi ao sebo ouvir Marisa Matarazzo enquanto comeria, foi ao ponto de interrogação,e lá encontrou a mesma figura, agora de camiseta, cabelo preto, descobriu um par de costeletas, um clichê que andava sobre os próprios pés no sentido contrário da vida.
Ela o seguiu até uma pastelaria chinesa com cara de poucos amigos, sentou-se, na frente dele, queria ser notada, queria estuda-lo melhor, a pastelaria parecia ser saída de um filme, poucos falavam português fluente, o cheiro de azeite das frituras ficariam nos seus cabelos perfumados por algumas longas horas
Ele tirou um pequeno livro do bolso, menos mal, gosta de ler, difícil era reconhecer o que era lido, e entre uma mordida e outra do pastel foi descobrindo mais, e principalmente que o misterioso menino clichê era mais misterioso ainda, a dificuldade lhe aumentava o tesão.... uma noite de luxúria entre espelhos seria pouco..
Pensou em uma atitude desinibida, ser fatal, mostrar sua tatuagem, falar das suas pequenas descobertas da vida e onde ficavam os melhores sebos e brechós, não, calma. Me apaixonei ? ou Não? A linha entre a atração e a paixão é tênue, fatal.
Enquanto pensava no que dizer, como dizer, porque dizer e quando dizer, dono de si ele levantou-se pagou a conta, percorreu alguns metros até a calçada e sumiu junto com a fumaça do seu cigarro.
Descompassada e desconcertada, como uma criança na frente do velho Noel ela apressou-se em espantar a multidão com as mãos e correr com os olhos, mas como dono de si era rápido e sumiu entres aqueles que guerreavam contra a vida sem perceber.
Passou-se mais alguns dias cinzas, com roupas diferente diariamente, fazendo a corte e mantendo a distância, e decidiu que não era mais tesão, muito menos paixão, era questão de honra, anos treinando, fazer o corpo ser como a mente, diferente, e não ser ao menos percebida?
Precisava saber mais daquele que errava pelos caminhos da vida, sem ao menos mexer os lábios pra fumar, ou pelo menos saber seu destino após o almoço.
Como uma questão de honra deve ser resolvida, diariamente aquele desconhecido fora perseguido, mas nunca chegava a lugar algum, uma vez que seu almoço tinha limite de tempo, assim, como a vida, a angustia lhe cobria as tardes imaginando qual seria o destino do menino clichê, talvez um vocalista de alguma banda de um cenário alternativo, mas pela seriedade talvez trabalhasse com o problema alheio, ou seria apenas um junkie que curtia almoçar naquela espelunca?
Pintor, cantor, escritor, ofice boy, ele podia ser qualquer coisa...e com a mente cheia de idéias que chegavam a lugar nenhum, como a sua busca andava rápido para alcançar seu objetivo sem ao menos saber o que faria quando soubesse o destino daquele, fixou o olhar no seu objetivo pisou no asfalto sentiu o corpo errar o chão e logo após acertá-lo.
Deitada ali, sem saber o que acontecera olhava aquela jaqueta de couro indo embora, sem ao menos olhar para trás, ouvia apenas as lamurias do motorista que havia lhe atropelado, sirenes, correria, alguns se debruçaram sobre seu corpo, mas aos poucos se afastaram, diziam que não tinha mais jeito, todos se afastaram, as sirenes se calaram, um lençol branco cobriu o seu rosto, era o fim.
Fechou os olhos e ficou esperando o inferno, o céu, a eternidade, a verdade sobre a vida e a morte, pensando no que ficou, desesperada.
Colocaram seu corpo em uma mesa fria, tiraram o lençol, e lá estava ele, o menino clichê, de jaleco, sério barba por fazer, com bisturi na mão, técnico em necropsia... enfim descobriu o segredo do menino clichê, era técnico em necropsia, por isso, talvez, fosse sério... assim no seu ultimo momento, acompanhando seu corpo, frio, duro e inútil ela ouviu sua voz...
Desculpa lindinha, mas esse é meu serviço...
cortando seu peito

5 comentários:

Unknown disse...

"cliente morto não paga"

Bruna disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Bruna disse...

Nossa man.
queria eu que meu blog fosse tão cheio de "arranjos" quanto o seu. xP
hehehe

Unknown disse...

menino escritor!

Rafa Kondlatsch disse...

Técnico de necropsia é tão clichê quanto pastelaria, all star e morte por atropelamento. Mundo clichê é foda, mas a vida é dura!